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O advogado e as novas tecnologias

Lidiane Leles* 

Mírian Lima**

Introdução

A transformação digital vem impactando diversos setores da economia e com a advocacia não é diferente. O meio jurídico tem sido cada vez mais afetado pelas novas tecnologias, que tem impactado tanto na forma como os profissionais do direito exercem suas atividades, quanto na maneira como as pessoas têm acesso aos serviços jurídicos.

Neste artigo, vamos discutir os desafios e as oportunidades que a transformação digital traz para a advocacia.

Desafios das novas tecnologias e da transformação digital na advocacia

A transformação digital traz consigo alguns desafios para os advogados e advogadas que até agora só exercem a advocacia tradicional. Um dos principais é a necessidade de adaptação às novas tecnologias. Muitos advogados estão acostumados a trabalhar de forma tradicional, com processos manuais e pouco ou nenhum uso de tecnologia. Com a transformação digital, é necessário promover a mudança cultural, aprendendo a usar novas ferramentas e tecnologias, o que pode ser um desafio para alguns.

Outro desafio é a questão da segurança da informação. Com o uso de tecnologia, há uma maior exposição de dados e informações, o que exige uma atenção redobrada à segurança. Os advogados precisam garantir a proteção dos dados dos seus clientes e evitar possíveis vazamentos.

Um outro ponto é a adoção de novas ferramentas por parte dos profissionais da advocacia que deverão promover a escolha e implementação das mesmas, o que pode ser um desafio, já que requer um investimento em tecnologia, treinamento e suporte técnico.

Além disso, a transformação digital pode trazer mudanças na forma como os serviços jurídicos são prestados. Com a automatização de algumas tarefas, como a revisão de documentos, por exemplo, pode haver uma redução na demanda por alguns serviços. Os advogados precisam se adaptar a essas mudanças e buscar novas formas de oferecer valor aos seus clientes.

Oportunidades da transformação digital na advocacia

Apesar dos desafios, a transformação digital traz diversas oportunidades para os advogados. Uma delas é a possibilidade de aumentar a eficiência e a produtividade. Com o uso de tecnologia, é possível automatizar tarefas repetitivas e liberar tempo para atividades mais estratégicas.

Podemos destacar ainda a melhoria na qualidade dos serviços oferecidos. Com o uso de tecnologia, é possível ter acesso a informações mais precisas e detalhadas, o que pode melhorar a qualidade das decisões tomadas pelos advogados.

Além disso, a transformação digital traz novas formas de se relacionar com os clientes. Com o uso de plataformas online e redes sociais, os advogados podem se comunicar de forma mais rápida e eficiente com seus clientes, além de poderem oferecer serviços online. Assim,  permite que os escritórios de advocacia alcancem novos clientes e mercados, mesmo em regiões geográficas distantes. Isso pode ser feito por meio de plataformas online e de marketing digital.

A transformação digital permite ainda que os advogados trabalhem de forma mais flexível, com acesso remoto a dados e informações. Isso pode ajudar a melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

As principais tecnologias utilizadas no meio jurídico

A tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante no mundo jurídico, tornando processos mais eficientes e permitindo uma maior colaboração entre profissionais. Abaixo, listamos algumas das principais novas tecnologias que estão impactando o meio jurídico:

Inteligência Artificial (IA): 

A inteligência artificial tem se mostrado uma ferramenta valiosa para o meio jurídico, permitindo a automação de tarefas repetitivas, como a revisão de contratos, análise de provas e a pesquisa de jurisprudência. Além disso, a IA também pode ser usada para prever resultados de processos e identificar tendências.

Blockchain: 

A tecnologia blockchain tem a capacidade de criar contratos inteligentes que são imutáveis e altamente seguros. Isso pode ser útil em transações comerciais e financeiras, bem como em contratos de propriedade intelectual. Pode ser utilizada ainda para garantir a autenticidade e a integridade de documentos.

Big Data: 

O uso de big data no direito pode ajudar a analisar grandes quantidades de informações para descobrir padrões e insights que possam ajudar em casos. 

Computação em nuvem: 

A computação em nuvem pode ser utilizada para armazenar informações e documentos de forma segura, permitindo o acesso de diferentes locais e dispositivos e podendo ser acessado a qualquer momento. 

Realidade Virtual (VR) e Aumentada (AR): 

Essas tecnologias podem ser utilizadas em tribunais e em escritórios de advocacia para a realização de visitas virtuais a locais, podendo ser usadas para recriar cenas de crime e acidentes, permitindo que advogados e juízes tenham uma melhor compreensão dos eventos em questão. Além disso, a RV e a RA também podem ser usadas para criar experiências de treinamento para profissionais jurídicos. 

Assistentes virtuais: 

Os assistentes virtuais podem ser utilizados para automatizar tarefas rotineiras, como o preenchimento de formulários, bem como para fornecer informações básicas aos clientes.

E-discovery: 

A tecnologia de e-discovery pode ser usada para encontrar e gerenciar informações eletrônicas relevantes em processos judiciais, o que pode reduzir o tempo e o custo envolvidos nessa tarefa. 

Essas são apenas algumas das novas tecnologias que estão transformando o meio jurídico. À medida que a tecnologia continua a avançar, é provável que novas ferramentas e soluções surjam para ajudar a simplificar e aprimorar o trabalho dos profissionais do direito. 

O papel do advogado na Advocacia Moderna

Com a transformação digital surge o novo advogado da advocacia moderna, que é aquele profissional que não só domina as habilidades técnicas necessárias para a prática do Direito, mas também está apto a utilizar as ferramentas digitais para aprimorar seu trabalho.

Essa nova advocacia exige uma visão mais estratégica e empreendedora, em que o advogado deve estar constantemente atualizado sobre as mudanças na legislação, jurisprudência e mercado, além de dominar a tecnologia para otimizar o trabalho e fornecer um serviço mais eficiente e eficaz aos clientes. 

Além disso, o novo advogado da advocacia moderna deve estar atualizado sobre as ferramentas digitais disponíveis para otimizar seu trabalho, como softwares de gestão de processos, inteligência artificial para análise de documentos e dados, plataformas de videoconferência para reuniões com clientes e colegas, entre outras. 

É importante ressaltar que a tecnologia não substitui o conhecimento jurídico e a expertise do advogado, mas sim aprimora o trabalho e possibilita uma melhor gestão dos processos, aumentando a eficiência e reduzindo os custos.

Assim, o novo advogado da advocacia moderna é aquele que consegue aliar as habilidades técnicas do Direito com as competências necessárias para lidar com os desafios do mercado atual e a tecnologia disponível para otimizar seu trabalho, e que esteja disposto a evoluir constantemente e oferecer um serviço de excelência aos clientes.

Conclusão

A transformação digital traz desafios e oportunidades para a advocacia. Os advogados precisam estar preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades oferecidas pela tecnologia. É necessário adaptar-se às novas ferramentas e tecnologias, garantir a segurança da informação e buscar novas formas de oferecer valor aos seus clientes. Aqueles que conseguirem se adaptar à transformação digital têm grandes chances de se destacarem no mercado e oferecerem serviços de alta qualidade aos seus clientes.

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Mirian Lima: Coordenadora da ANPPD Regional São Paulo. Coordenadora Geral ANADD. Professora e Consultora em Proteção de Dados. Formada em Direito pela PUCPR. Pós-graduada em Direito Constitucional Tributário e Privacidade de Dados (FAMESP). Membro do Grupo de Pesquisa LGPD da PUCPR. Membro da Comunidade Mulheres da LGPD. Fundadora do METASAFE

Lidiane Leles: Advogada Especialista em Direito Digital, Privacidade e Proteção de Dados, Compliance e Direito Empresarial. Data Protection Officer. Sócia-Fundadora do Escritório Lidiane Leles Advogados. Pós- Graduada em Contratos Empresariais pela Fundação Getúlio Vargas e em Direito Processual (Cível e Penal), Máster em Direito e Business Law pela FGV. Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre a LGPD da Comissão de Estudos de Compliance da OAB/SP. Fundadora da Associação Nacional de Advogadas e Advogados de Direito Digital (ANADD) e da Comunidade Mulheres da LGPD.

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