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O desafio de se tornar um profissional da proteção de dados e privacidade

Professora Euzilanea Miotto Leite*

“Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.” (Jean Cocteau)

Era o ano de 2019, mais precisamente o mês de março.

Já havia ouvido falar da tal “Lei Geral de Proteção de Dados” que atrasaria minha vida, pois eu teria que pedir consentimento para fazer qualquer coisa com os dados dos usuários de serviços de cartórios – era o que se falava na época.

Eu nem sabia do que se tratava, mas já tinha tomado “ranço” dessa tal Lei. 

Por escolha, mudei de cidade, de emprego, casei-me de novo (dado sensível). Por que não mudar de profissão?

Mudança para ser uma profissional da proteção de dados e privacidade

Não escolhi trabalhar com proteção de dados de cara, me tornei autônoma, abri uma MEI e fui prestar serviços para cartórios. Me tornei uma operadora. Tratava dados dos usuários.

Resolvi entender melhor sobre essa Lei, afinal, não queria iniciar um empreendimento do jeito errado (contadora por graduação).

ME APAIXONEI.

É verdade, me apaixonei pela Lei Geral de Proteção de Dados. Comia, vestia, lia, sonhava, falava o tempo todo sobre Lei Geral de Proteção de Dados. Minha família e amigos não aguentavam mais ouvir falar disso.

Não perdia uma live, passava horas peneirando sobre o tema na Internet. Achei o Diego da LGPD dá Lucro, me empolguei com os vídeos dele, queria aprender mais, mandei mensagem, começamos a trocar ideias, a culpa é dele, ele apontou o caminho e eu me joguei. Ahhh, estou falando do Diego Ramos, DPO do Sebrae.

Encontrei muito material e gente boa, mas também encontrei muito material que em nada me agregou e muita gente que tentou, mas não conseguiu me desestimular com os comentários: “você não é advogada”, “você não é da área de TI”, “você não é, você não tem”, era o que eu mais ouvia. 

Estudos e mais estudos

Quando comecei a estudar a Lei Geral de Proteção de Dados não imaginava quanto de conteúdo teria que ser assimilado para prestar um serviço de Implementador de Programa de Privacidade.

Não é suficiente ter a Trilha DPO, não é suficiente estudar a LGPD, não é suficiente acompanhar alterações na Lei e outras regulamentações pertinentes ao nicho que decidimos atuar.

A frase que martela nossa mente é….NÃO É SUFICIENTE…o estudo e aprimoramento começa, mas NÃO TEM FIM.

Nunca pensei que seria fácil, ainda mais por ter mais de 40, por ter parado de estudar já se fazia quase duas décadas, por não ser da área de tecnologia nem da área de direito.

Mas “à boca miúda” se dizia: qualquer pessoa pode trabalhar como encarregado de dados, então, por que não eu?

“O discernimento consiste em saber até onde se pode ir.” Jean Cocteau

Entrando no mundo de Nárnia

Me inscrevi de cara num curso que me desestruturou, mas me reconstruiu. Bruno Bioni, Renato Leite – Data Privacy Brasil, sofri, mas não me deixei intimidar, lembro-me de ter um caderno do lado para anotar cada palavra, sigla, conceito que eu não fazia nem ideia do que era. 

Parecia que eu havia aberto a porta do armário e entrado no mundo de Nárnia.

Fiz meu Linkedin, fui me matriculando em cursos e mais cursos, Impacta, TI Exames, LEC, Data Ux, Portal do Treinamento, LGPD Model Canvas – Lamara Ferreira, diversos cursos das plataformas Hotmart, Sympla, Udemy, ENNOR e por aí segue a lista, perdi a conta.

Cheguei à insanidade de ter aulas de três cursos no mesmo dia. Adoeci, dormi sentada, emagreci, não havia possibilidade de dar errado, era minha virada de chave. Apostei tudo nisso e nem estou falando de dinheiro e tempo, estou falando de ESPERANÇA, apostei toda a minha vontade de viver diferente, de crescer, de fazer algo relevante nesta nova profissão.

Veio a COVID-19. 

O que parecia ser o fim, foi para mim a ascensão, tive acesso a aulas e cursos que jamais teria se fosse apenas de forma presencial. 

Comprei a trilha DPO duas vezes (afobamento e ignorância sobre tema).

Hora da prova

No dia da prova ISFS, tropecei e deixei um copo gigante de capuccino cair no meu notebook (posição fetal, uma hora chorando, meu marido tentando salvar o notebook), minha vida parecia ter acabado ali, drama total.

Levei bomba nessa prova, paguei de novo, passei. A prova PDPF e PDPE, meses depois do trauma, fiz no mesmo dia, passei tranquilo. 

Não sei explicar, definir por quais motivos ainda não havia feito a prova do PDPP mesmo já tendo sido adquirida. Não tinha justificativa.

“É um erro vulgar confundir o desejar com o querer.

O desejo mede os obstáculos; a vontade vence-os.” Alexandre Herculano

Procrastinação

Meu voucher venceria dia 20/08/2022. Procrastinei o quanto pude. Hoje me pergunto o motivo e hoje sei o motivo.

Muitos de nós iniciamos projetos com a cara e a coragem, desbravadores, mas tudo tem seu preço. Alguns desistem, outros mudam o foco, alguns ficam doentes, paranoicos (verdade isso). 


Eu mesma recebi alertas de diversos colegas, professores e parceiros para diminuir o ritmo.

Acumulador de conteúdo

Mas por que isso acontece?

Isso acontece porque não sabemos como fazer. Temos conteúdo demais à disposição e não sabemos selecionar o que realmente nos é importante. Nos transformamos em ACUMULADORES DE CONTEÚDO.

Baixamos, printamos, arquivamos tudo que aparece sem critério nenhum. 

Por mais que eu tenha estudado, por mais que eu soubesse que eu fosse capaz, por mais experiência que eu já tivesse adquirido ministrando treinamentos, implementado programas de privacidade em diversos cartórios, eu tinha medo de fazer a prova.

Eu tinha medo de me sentir uma fraude caso não fosse aprovada, como se a certificação fosse a comprovação da minha competência e não uma simples confirmação de que eu estava apta para exercer a função.

Tive medo de ser julgada, mas quem me julgaria? Eu, eu mesma.

Eu não queria ouvir de ninguém: – Como assim você não passou na prova? 

Exame do Exin

Quem já fez exame online do Exin sabe que temos que ter nervos de aço. Não pode olhar para o lado, torcer para a internet ajudar, energia não falhar, são tantos riscos que, para marcar uma prova, a gente quase tem que fazer uma AIPD.

Não estou aqui para dar conselhos de como ser uma profissional de proteção de dados e privacidade, mas sim para compartilhar a lição que aprendi. 

Depois de dar minha cara a tapa no mercado e voltar pra casa com lesões e olhos roxos, aprendi algumas lições que gostaria de compartilhar com todos, principalmente os que estão começando.

Não existe, nesse caminho que escolhemos, SUCESSO SEM PROJETO ESTRUTURADO.

Não desistir e não ser teimosa. Estas foram as principais lições. 

Parece contraditório falar em voz alta, mas é preciso identificar onde um começa e outro termina.

Precisamos saber onde está a bandeira da chegada para ir na direção certa. 

Escolha seu nicho, defina seu campo de atuação, não represente como profissional de proteção de dados e privacidade o que um clínico geral representa na medicina. 

Não tente ser bom em tudo, encontre bons parceiros, quem divide conhecimento, também o multiplica.

E, acima de tudo, não se autossabote. Não procrastine. Esteja aberto a críticas e sugestões. Defina a meta, mire a linha de chegada e corra. 

Quem fica para trás come poeira e cospe tijolo!

Leia outro artigo da autora:

O direito fundamental à privacidade e a rotina das atividades dos cartórios


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