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Qual o impacto da transformação digital para o alcance de metas ESG?

Carolina Giovanini*

Pedro Sanches**

A sigla “ESG” já faz parte do vocabulário corporativo e está cada vez mais presente em relatórios empresariais e notícias do ramo. Uma breve pesquisa no Google Trends já nos mostra que, desde o contexto da pandemia de Covid-19, a busca pela sigla aumentou consideravelmente no Brasil. Por trás das letras, estão os termos “Ambiental, Social e Governança” (em tradução livre), que buscam impulsionar práticas sustentáveis e socialmente responsáveis, além de uma gestão em conformidade com as normas aplicáveis.

Em outras palavras, uma gestão baseada em ESG busca impactar positivamente o meio ambiente e as pessoas para minimizar perdas financeiras e garantir a longevidade do modelo de negócio. Trata-se de um modelo alinhado com a Agenda 2030 – um compromisso assumido pelas Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável. Evidentemente, o planejamento e a execução de ações que concretizam estes objetivos é um desafio para organizações, mas a transformação digital pode ter um papel fundamental na promoção de práticas sustentáveis.

Tecnologia e sustentabilidade

Atualmente, a relação entre tecnologia e sustentabilidade ainda é uma questão em debate, de modo que diversos estudos investigam se a transformação digital pode – de fato – auxiliar organizações no alcance de objetivos sustentáveis.  Nesse contexto, é importante notar que os próprios Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem a Agenda 2030 da ONU evidenciam o papel da tecnologia no reforço da sustentabilidade. Inclusive, uma pesquisa mostra que, das 169 metas relacionadas aos ODS, 103 são diretamente influenciadas por tecnologias.

Do ponto de vista social, os investimentos em transformação digital possibilitam o aprimoramento da conectividade e acessibilidade digital, possibilitando a comunicação e inclusão de todas as pessoas. Sob a perspectiva ambiental, a tecnologia pode auxiliar no monitoramento e rastreamento preciso e eficiente de impactos ambientais, por exemplo, sensores de Internet das Coisas (IoT) podem auxiliar na coleta precisa de dados sobre pegada de carbono, eficiência energética, qualidade do ar, uso da água e gerenciamento de resíduos. Quanto à governança, o desenvolvimento tecnológico é fator relevante para garantir uma análise assertiva de dados e informações, possibilitando, por consequência, a otimização de processos, a minimização de desvios de conduta, bem como a melhoria na gestão de recursos e o planejamento assertivo de ações.

E na prática?

Em tese, a promoção de práticas sustentáveis pode ser viabilizada pela transformação digital, mas, na prática, essa ideia se sustenta? Um estudo conduzido com empresas listadas na bolsa italiana (FTSE MIB) investigou a relação existente entre a tecnologia digital e o alcance de objetivos de desenvolvimento sustentável, demonstrando que um maior nível de digitalização indica um melhor desempenho de sustentabilidade. Na mesma direção, uma pesquisa realizada na China e Coreia do Sul verificou que a adoção de um modelo de liderança digital (baseado na condução de transformação digital e busca de oportunidades para implementação de tecnologias) provocou efeitos positivos na inovação organizacional e na gestão baseada em ESG. 

É razoável sustentar, portanto, que existem indicativos relevantes de que o investimento na digitalização de processos pode sim apoiar práticas de ESG. Por outro lado, considerando que as práticas de ESG afetam organizações de forma diversa (variando de acordo com o porte, atividade-foco etc.), é recomendável que as organizações engajadas com desenvolvimento sustentável conheçam, através de mapeamento detalhado, como os princípios e objetivos que norteiam as práticas ESG impactam seu modelo de negócio, evitando desperdício de tempo e recursos. 

Além disso, é preciso que as organizações também estejam atentas aos desafios inerentes à digitalização de processos, especialmente em relação à conformidade regulatória e segurança cibernética (ponto em destaque em razão do constante crescimento de ataques e incidentes de segurança da informação). 

Diante disso, é essencial que as organizações, ao investirem em transformação digital, também conheçam os riscos relacionados à adoção de tecnologias e atuem preventivamente, implementando controles para atendimento das normas aplicáveis e garantia da segurança. Portanto, é possível dizer que o equilíbrio entre digitalização e segurança – sob a perspectiva jurídica e técnica – é ponto-chave para que uma gestão baseada em ESG seja concretizada com eficiência. 

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Carolina Giovanini: é advogada no escritório Prado Vidigal Advogados, profissional de privacidade certificada pela International Association of Privacy Professionals (CIPP/E) e mestranda em Direito e Inovação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Pedro Sanches: pós-graduado em direito digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), certificado pela Internacional Association of Privacy Professionals (IAPP) como Fellow Information Privacy (FIP), Certified Information Privacy Professional/Europe (CIPP/E) e Certified Information Privacy Manager (CIPM), alumni da formação executiva em práticas ágeis e proteção de dados pela Fundação Getúlio Vargas – FGV.

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