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Deixa pra lá

Luiz Fernando Nóbrega*

Posso apostar que você ouve e/ou usa muito essa expressão no seu dia a dia. 

“Deixa pra lá” pode significar muita coisa: tolerância, no sentido de relevar alguma situação ou resultado; desdém, ao não dar tanta importância a algo apresentado; desânimo ou preguiça, ao aceitar alguma circunstância por poupar forças em uma reação.

O fato é que o “deixar pra lá” pode trazer reflexos significativos para uma situação. E se na vida pessoal isso já pode ter efeitos prejudiciais, no mundo corporativo, pode levar a resultados graves e muitas vezes desastrosos.

Há duas semanas, tive um voo cancelado – mais um, na minha enorme lista de cancelamentos, atrasos e perrengues. A motivação desse cancelamento foi, conforme informações recebidas, de que havia uma falha no interfone da aeronave e que não seria possível o reparo em tempo de continuar o itinerário por falta de uma peça.

Apostei com vocês lá no começo deste artigo e aposto agora: garanto que passou pela cabeça de muitos dos passageiros o famoso “deixa pra lá” – na minha, por um instante e cansaço, passou. Afinal de contas, qual seria o problema do não funcionamento do interfone se comparado a gravidade de uma falha nos motores, turbina, freios… Vamos decolar!

Não. Não decolamos. E o curioso é que apesar de alvoroço, cansaço, irritação… tudo bem. Aceitamos o rigor dos controles da aviação e aguardamos os desdobramentos.

Deixa pra lá e a cultura

E por quê? Por que não decolamos sem um interfone a funcionar e dirigimos com uma luz de emergência no painel do carro piscando? Com uma lanterna traseira queimada?

Eu respondo a você: CULTURA!

Os controles na aviação são rigorosos. A aviação aprende dia a dia com acidentes (ainda que poucos em comparação a outros meios de transporte) ou incidentes diversos, e assim, aprimora seus controles, suas medidas preventivas, mesmo que de forma redundante. Tudo isso acompanhado de extensos treinamentos e fiscalização rigorosa, tanto das próprias companhias, fabricantes, quanto dos órgãos reguladores.

A cultura interna é construída pelos riscos que são identificados de forma preventiva (hipóteses) como de forma materializada (fatos). Aqui, o mais importante é a conscientização de empresários e gestores no que compete ao apetite de riscos. Um plano de ação mitigatório não pode compreender o “deixa pra lá”, caso contrário, seria uma escavação de um poço profundo de descontroles das ameaças e passivos futuros.

Pensemos mais um pouco ao nos expressar com o “deixa pra lá”. Quais os riscos que estamos deixando passar? Nossos negócios e nossa vida pessoal podem mudar consideravelmente, e os reflexos podem ser irreversíveis. 

Compliance em tudo!

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Luiz Fernando Nóbrega – Consultor de Compliance e Auditor Líder ISO 37.301. Com MBA na Anderson University e formação acadêmica de certificação em compliance e finanças pela KPMG, é Professor na disciplina de Compliance no BSSP Centro Educacional e é consultor de compliance na LF Nóbrega Consultoria.

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